Elvis 1956




sábado, 1 de abril de 2017

LIVRO ELVIS E EU CAPITULO 4

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continuação do livro Elvis e EU  Elvis And Me CAPITULO 4



À medida que as semanas passaram, a escola foi se tornando cada vez mais insuportável. Indo dormir tão tarde, era difícil levantar às sete horas e quase impossível me concentrar. Mas eu sabia que se me queixasse ou me atrasasse para a escola meus pais aproveitariam o fato para suspender as visitas a Elvis.

Meu aproveitamento escolar foi ficando cada vez pior. Seria reprovada em álgebra e alemão, mal conseguiria passar em história e inglês. Ao final do semestre do outono, alterei o boletim de D-menos para B-mais, torcendo para que meu pai nunca entrasse em contato com a escola.Insistia em dizer a mim mesma que ia melhorar,que recuperaria tudo; mas minha concentração total era em Elvis.

Uma noite, quando fui visitá-lo,peguei no sono enquanto esperava que ele terminasse a aula de caratê. Quando desceu e constatou como eu estava exausta, Elvis perguntou:

— Quantas horas você está dormindo, Priscilla?

Depois de um momento de hesitação, respondi:

— Cerca de quatro ou cinco horas por noite. Mas estou bem. Uma pausa e apressei-me em acrescentar: — Estou apenas um pouco cansada esta noite porque tivemos hoje algumas provas na escola.

Elvis assumiu uma expressão pensativa.

— Vamos subir, Honey. Tenho uma coisa para você.

Ele levou-me a seu quarto e pôs na palma de minha mão um punhado de pílulas brancas.

— Quero que tome isto. Vai ajudá-la a ficar acordada durante o dia. Mas só tome uma pílula, quando se sentir sonolenta, não mais do que uma ou sairá plantando bananeira pelo corredor.

— O que é isto?

— Não precisa saber o que é. Eles nos dão essas pílulas quando saímos para manobras. Se eu não tomasse, não conseguiria agüentar o dia



ELVIS E EU

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inteiro. Não tem problema. As pílulas são seguras. Guarde-as e não conte a ninguém. Também não deve tomar todos os dias. Só quando precisar de um pouco mais de energia.

Elvis pensava sinceramente que estava me fazendo um favor ao me dar as pílulas e tenho certeza de que nunca lhe passou pela cabeça que poderiam ser prejudiciais a ele ou a mim.

Não tomei as pílulas. Guardei-as numa caixa com várias outras coisas que começara a colecionar, como piteiras de charuto e bilhetinhos pessoais que ele me enviava. Pus a caixa numa gaveta.
Mais tarde, descobri que as pílulas eram Dexedrine, que Elvis descobrira no exército.


Um sargento as dava a diversos soldados, a fim de que permanecessem acordados quando estavam de sentinela. Elvis, acostumado com a vida de artista e detestando se levantar ao amanhecer, começara a tomar as pílulas para agüentar as horas terríveis da vida militar. Ele me contou que começara a tomar pílulas para dormir pouco antes de ser convocado. Temia a insônia e receava o sonambulismo, que o atormentava periodicamente desde a infância.

Quando era pequeno, tivera um ataque de sonambulismo e uma noite saíra do apartamento só de cueca. Um vizinho o acordara e ele voltara correndo para o apartamento, embaraçado. Em outra ocasião quase caíra de uma janela. Por isso, para evitar acidentes, dormira com os pais até ficar crescido. Tinha medo de que o sonambulismo persistisse pelo resto de sua vida. Era um dos motivos pelos quais sempre queria ter alguém dormindo em sua companhia.

Anos mais tarde, eu soube que alguém fora contratado na Alemanha para vigiá-lo durante a noite inteira.

Já era o Natal de 1959 e eu não tinha a menor idéia do presente que daria a Elvis. Percorri as ruas apinhadas de Wiesbaden, olhando as vitrines, tentando encontrar alguma idéia. A escolha de presentes para a família sempre fora fácil, já que sabíamos exatamente o que cada um queria ou precisava; mais do que isso, muitas vezes fazíamos pessoalmente os presentes para os outros. Papai me deu 35 dólares para gastar num presente para Elvis e parecia uma quantia fabulosa quando saí de casa naquele dia


gelado. Perdi a ilusão quando encontrei uma linda caixa de charutos, feita a mão, com porcelana contornando um desenho decorativo. Elvis, um fumante de charutos, certamente haveria de adorar. Mas depois que a vendedora me disse o preço — 650 marcos alemães, o que dava 155 dólares — deixei a loja a condenar meu gosto dispendioso.

Estava nevando forte e me encaminhei apressada para outra loja, esta repleta de brinquedos atraentes, inclusive um trenzinho alemão que Elvis instalaria na sala de estar. Mas o trem custava dois mil marcos alemães.

Voltando para casa no escuro, à beira das lágrimas, deparei com uma loja de instrumentos musicais, com um par de bongôs, incrustados com latão faiscante, em exibição na vitrine. Custavam quarenta dólares, mas o vendedor teve pena de mim e aceitou 35 dólares. Seguindo para casa, fui assediada por mil e uma dúvidas, convencida de que os bongôs eram o menos romântico dos presentes.

Devo ter perguntado vinte vezes a Joe Esposito e Lamar Fike se achavam que era um bom presente.

— Claro que é-respondeu Joe. — Ele vai adorar qualquer coisa que você lhe der.

Mas eu ainda não estava convencida. Na noite em que trocamos presentes, Elvis saiu do quarto do pai e me levou para um canto da sala de estar, onde me entregou uma pequena caixa embrulhada em papel de presente, contendo um delicado relógio de ouro com um diamante na tampa e um anel de pérola, flanqueada por dois diamantes.

Eu nunca possuíra nada tão bonito e jamais um sorriso me deixara tão feliz quanto o de Elvis naquele momento.

— Vou adorar estes presentes pelo resto de minha vida — balbuciei. Elvis me pediu para pôr o relógio e o anel e me levou para a sala, mostrando a todo mundo. Esperei pelo máximo de tempo possível antes de dar meu presente a Elvis.

— Bongôs! — exclamou ele. — Mas era justamente o que eu estava querendo!

Elvis percebeu que eu não acreditava em suas palavras; ele era melhor em dar do que em receber. Mas insistiu:

— Charlie, eu não estava precisando de bongôs?
 

Chamando-me para sentar a seu lado ao piano, ele começou a tocar "I'Be Home for Christmas", com tanta emoção que não pude levantar o rosto, com receio de que ele visse que eu estava chorando. Quando não pude mais resistir, nossos olhos se encontraram e constatei que ele também reprimia as lágrimas.

Só muitos dias depois é que descobri um armário cheio de bongôs — os meus não estavam ali — no porão. O fato de que meus elefantes brancos não haviam sido consignados ao esquecimento do porão, mas estavam expostos em destaque ao lado de sua guitarra, fez com que eu o amasse ainda mais.

À medida que os dias passavam, comecei a temer o dia da partida de Elvis. Em janeiro ele já estava arrumando duas coisas e cada noite que eu passava em sua companhia tornava-se mais preciosa do que a anterior. E depois, quando o tempo ficou ainda mais frio, Elvis foi enviado para manobras no campo, por dez dias; se havia alguma coisa que ele detestava era dormir ao relento sobre um terreno congelado.

Na manhã seguinte começou a cair neve e de tarde já era uma nevasca intensa. Quando Michelle e eu voltávamos da escola, de carro com mamãe, resolvi ligar o rádio, bem a tempo de ouvir uma notícia de última hora:

— Desculpem a interrupção, mas acabamos de receber a informação de que o cabo Elvis Presley foi levado às pressas das manobras de campo para um hospital em Frankfurt, sofrendo de um ataque de amigdalite aguda. Se você está escutando, Elvis saiba que todos torcemos para sua pronta recuperação.

Frenética de preocupação, telefonei para o hospital, esperando saber mais sobre o seu estado. Para minha surpresa, a telefonista, assim que ouviu meu nome, transferiu a ligação para o seu quarto, explicando que o Cabo Presley deixara instruções expressas.

— Sou um homem doente, Honey — disse ele, a voz rouca. — Preciso de você ao meu lado. Se seus pais não se incomodarem, mandarei Lamar buscá-la imediatamente.

Claro que meus pais deram permissão para que eu fosse ao hospital. Uma hora depois entrei em seu quarto, no instante em que a enfermeira


ELVIS E EU


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saía. Elvis estava sentado na cama, apoiado em travesseiros, um termômetro na boca, cercado por dezenas de buquês de flores.

Assim que a enfermeira se retirou, Elvis tirou o termômetro da boca, riscou um fósforo e com todo cuidado pôs a chama por baixo do termômetro. Depois, tornou a metê-lo na boca e arriou na cama, no instante em que a enfermeira voltava, trazendo mais flores, sorrindo afetuosamente para o paciente famoso, ela tirou o termômetro de sua boca e deixou escapar uma exclamação de espanto.

— Mas você está com 39 de febre! Está realmente doente, Elvis.

Acho que terá de permanecer no hospital pelo menos durante uma semana.

Elvis balançou a cabeça, sem dizer nada, enquanto a enfermeira afofava os travesseiros, enchia seu copo com água e depois saía do quarto. Só então é que ele desatou a rir, pulou da cama e me abraçou. Elvis tinha horror a manobras; como o tempo estava tão ruim e todos se preocupavam com sua voz, a solução que encontrara para o problema fora simular amigdalite. Já bastante suscetível a contrair resfriados, Elvis aprendera a dramatizar o problema, com a ajuda de um fósforo.
 

ELVIS E EU




CONTINUA,,,,,,,,,

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